quinta-feira, 26 de junho de 2008

A quimica do beijo


SEROTONINA

Com o estímulo do beijo, o nível de serotonina no cérebro (substância neurotransmissora que dá a sensação de euforia e relaxamento) cresce.
Por isso, beijar na boca acalma, ajuda a liberar sentimentos reprimidos, reduz o complexo de rejeição e alivia o estresse. Tudo em questão de ins­tantes.
"Só traz vantagens", diz Aílton Amélio da Silva, professor de Psico­logia da Universidade de São Paulo.
A serotonina é uma substância chamada de neurotransmissor que existe naturalmente em nosso cérebro e, como tal, serve para conduzir a transmissão de uma célula nervosa (neurônio) para outra.

Atualmente a serotonina está intimamente relacionada aos transtor­nos do humor, ou transtornos afetivos e a maioria dos medicamentos chamados antidepressivos agem produzindo um aumento da disponibili­dade dessa substância (tornam-na mais disponível) no espaço entre um neurônio e outro.

Para se ter uma noção da influência bioquímica sobre o estado afetivo das pessoas, basta lembrar dos efeitos da cocaína, por exemplo. Trata-se de um produto químico atuando sobre o cérebro e capaz de produzir grande sensação de alegria, ou seja, proporciona um estado emocional através de uma alteração química. Outros produtos químicos, ou a falta deles, também podem proporcionar alterações emocionais.

Pensando nisso, em meados do século XX a medicina começou a sus­peitar ser muito provável a existência de substâncias químicas atuando no metabolismo cerebral, capazes de provocar o estado depressivo. Isso re­sultou nos conhecimentos atuais dos neurotransmissores e neuroreceptores, muitíssimo relacionados à atividade cerebral.

Alguns desses neurotransmissores, notadamente a serotonina, noradrenalina e dopamina, estão muito associados ao estado afetivo das pessoas e ao ato de beijar. Assim sendo, hoje em dia é mais correto acreditar que o deprimido não é apenas uma pessoa triste, aliás, alguns deprimidos nem tristes ficam.

É mais acertado acreditar nos deprimidos como pessoas que apresentam um transtorno da afetividade, concomitante ou proporcionado por uma alteração nos neurotransmissores e neuroreceptores.

Algumas pesquisas procuraram embasar a teoria de que a depressão seria conseqüente a baixos níveis da serotonina. Inclusive observou-se que as pessoas submetidas à dieta com baixos teores de triptofano, uma subs­tância (aminoácido) precursora da serotonina, desenvolviam um quadro depressivo moderado.

Também foram realizados testes em pacientes gravemente deprimi­dos, bem como em pacientes suicidas e constatou-se também baixíssimos níveis de serotonina no líquido espinhal dessas pessoas.

Existe um teste internacional para a avaliação do grau de depressão chamado teste de Hamilton. Pois bem, este teste mostra altas pontuações (sugerindo maior depressão) em pessoas com dosagem menor de triptofano (o precursor da serotonina).

Essas pesquisas abrem a possibilidade de se utilizar o triptofano como coadjuvante no tratamento de pacientes deprimidos, coisa que já vem sendo feita por muitos psiquiatras.
Também os transtornos da ansiedade, principalmente o transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno do pânico, estariam relacionados à serotonina, tanto assim que o tratamento para ambos também é realizado às custas de antidepressivos que aumentam a disponibilidade de serotonina. Nesses estados ansiosos, também a noradrenalina, um outro neurotransmissor, estaria diminuído.

Os baixos níveis de serotonina estão relacionados com alterações do sono, tão comuns em pacientes ansiosos e deprimidos. Essas alterações do sono, normalmente através da insônia, deve-se ao desequilíbrio entre a serotonina e um outro neurotransmissor, a acetilcolina.
O tratamento com antidepressivos pode melhorar o desempenho do sono, embora em alguns casos possa haver insônia.

Outro efeito que pode ser muito útil dos antidepressivos é em relação ao tratamento de pessoas dependentes de medicamentos hipnóticos (para dormir), já que estes proporcionam um certo desequilíbrio na acetilcolina.

Tendo em vista a ação da serotonina na diminuição da liberação de estimulantes da produção de hormônios pela hipófise, ou seja, quanto mais serotonina menos hormônio sexual, alguns antidepressivos que au­mentam a serotonina acabam por diminuir a atividade sexual, coisa que não acontece com o beijo, em virtude de ter em si um claro elemento de apelo sexual.

A vontade de comer doces e a sensação de já estar satisfeito com o que comeu (saciedade) dependem de uma região cerebral localizada no hipotálamo. Com taxas normais de serotonina a pessoa sente-se satisfeita com mais facilidade e tem maior controle na vontade de co­mer doce.
Havendo diminuição da serotonina, como ocorre na depressão, a pessoa pode ter uma tendência ao ganho de peso. É por isso que medicamentos que aumentam a serotonina estão sendo cada vez mais utilizados nas die­tas para perda de peso.

Um desses medicamentos é a fluoxetina, que, além de tratar a de­pressão, aumentando a serotonina, também proporciona maior controle da fome (notadamente para doces).Por isso, chega-se à conclusão de que o objetivo de um bom beijo é a produção de serotonina, esse elemento neurotransmissor de prazer tão importante na vida do ser humano.

Fonte: Dossiê do beijo: 484 formas de beijar/ Pedro Paulo Carneiro. - Petrópolis: Catedral das Letras, 2003

Nenhum comentário: